terça-feira, 3 de novembro de 2009

Educação para a paz em São Sebastião


Por Vinícius Borba
Estagiário

Com o objetivo de conhecer novas estratégias e projetos de prevenção da violência, a secretária de Proteção a Vítimas de Violência, Valéria de Velasco, reuniu-se, quinta-feira (29/10) com representantes de dois projetos de educação para paz, em São Sebastião: o Pró-Mediação e a Terapia Comunitária. A secretária apresentou as ações da Pró-Vítima e conheceu as atividades e instalações do Centro de Educação São Francisco (CED). Com a participação de oito estudanttes que praticam a mediação de conflitos, o clima de identificação entre os projetos e a experiência da secretária levaram à reafirmação do consenso: só o diálogo promove a paz.

Os oito estudantes participam do programa de Mediação de Conflitos do Instituto Pró-Mediação, desenvolvido pelo CED. Os jovens , que desde janeiro participam do curso, ajudaram a coordenadora Flávia Beleza a demonstrar como é a prática de mediação no dia a dia. Ao todo, 12 alunos fazem parte do projeto, que oferece 100 horas de teoria e 40 horas de simulações e práticas de mediação.

Cultura do diálogo
No encontro, a psicóloga e terapeuta Gildete da Silva Santos falou sobre seu trabalho de terapia comunitária na cidade. Ela detalhou a técnica que usa o diálogo para solução de problemas com apoio dos demais participantes da roda. Segundo a terapeuta, também é especializada em violência contra criança e adolescente, as rodas de conversa com vários moradores vítimas de agressões leva a respostas sobre as causas dos problemas. Quem sofre ouve sugestões dos demais e começa a observar seus problemas têm uma dimensão superior às suas dificuldades individuais. “As pessoas saem fortalecidas por terem visto que não estão sozinhas e que contam com sentimento de apoio da comunidade”, disse Gildete.

Todas as quintas-feiras, a psicóloga promove a reunião de terapia no estacionamento da Unidade Mista de Saúde, às 18h30. Segundo ela, há regras para o bom desenvolvimento da atividade. Ninguém pode julgar ninguém. Todos devem falar em primeira pessoa (eu, nós), de forma a não apontar para ninguém e, assim, aprender a falar de si e, principalmente, a ouvir os demais.

Saber ouvir para saber ser
Mediadora de conflitos escolares, a estudante Kamilla Karen,17 anos, conhece bem a importância de aprender a ouvir. Com toda a energia de uma adolescente, ela enfrentou sérios problemas de agressividade e dificuldades de relacionamento, principalmente com os pais e irmãos por causa das suas atitudes grosseiras. Na escola, ela ameaçava as outras alunas.

“Eu era muito encrenqueira. Ninguém podia me olhar que eu já queria bater”, reconhece a jovem. Quando conheceu o Pró-Mediação estava envolvida com um integrante de gangue da cidade. “Se você não fizer o que eles querem, você é a fraca. E eu queria ser popular, pois todo mundo queria conhecer eles”, confessa.

Um dia, por ciúmes, ela espancou uma aluna de outra escola que o rapaz estava cortejando. “Eu não queria ver que era ele quem estava procurando a moça”, conta.Arrependida, Kamila passou, por meio do curso de mediação, a ouvir as outras pessoas. “Antes eu só queria falar. Hoje, sei escutar e estou aprendendo a dar conselhos”. Na escola, ela passou a ser uma mediadora de conflitos. “Agora, eu sei quem sou. Antes, eu queria ser outra pessoa que não era. Hoje, sei ser eu. E me conheço”, diz a jovem com a segurança de quem não tem medo. Kamilla venceu um dos fatores que mais provoca violência: a insegurança.

Flávia Beleza, uma das fundadoras do Instituto Pró-Mediação ― ao lado da também advogada Bárbara Diniz ― acredita na proposta. Ela diz que “mediação social é um instrumento de participação para a realização da cidadania. É a cultura do diálogo”. Com o apoio da direção do colégio, estão criando o Dia da Conversa no CED São Francisco, para que os alunos possam se expressar mais.

O projeto contempla três eixos fundamentais: fortalecimento dos atendidos, reconhecimento dos outros e conscientização de onde está o conflito. De acordo com Flávia, é importante a “problematizar” a mediação, de forma a estimular a reflexão sobre as causas dos problemas. “Quando as pessoas tem conflitos, precisam compreender que, às vezes, isso acontece por causas que estão além de sua compreensão, em questões até políticas e maiores”, diz Flávia.

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